Um pensamento de Tomás de Aquino sobre a razão e o intelecto

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Na questão 51, artigo 2, do volume IV da Suma Teológica, Tomás pergunta se existem hábitos causados por atos. Ele responde que sim, existem hábitos causados pelos hábitos. A razão é que “os atos multiplicados geram na potência passiva e movida uma quantidade que se chama hábito. Desse modo é que os hábitos das virtudes morais são causados nas potências apetitivas, enquanto movidas pela razão, da mesma forma como os hábitos das ciências são causados no intelecto, enquanto este é movido pelas proposições primeiras”.

O pensamento que pode gerar uma reflexão é esse que  Tomás escreve logo a seguir: “a razão é um princípio mais nobre do que o hábito da virtude moral gerado na potência apetitiva por atos rotineiros, e o intelecto dos princípios é mais nobre que a ciência das conclusões.”

No caso, ao utilizarmos a razão para deliberarmos sobre os mais variados assuntos da nossa vida, e o intelecto dos princípios ao ser valorizado por nossos valores pessoais, podem constituir alguns  elementos daquilo que Aristóteles chamava de vida teórica. O que a filosofia Tomista quer dizer é que uma vida de reflexão da nossa alma é mais bela e desejável do que uma vida dos sentidos. É a velha história de Marta e Maria. A vida ativa e a vida contemplativa. O exercício de uma vida de estudo dos princípios morais é algo que os homens deveriam buscar mais do que uma vida de tentativa e erro, de vícios e pecados, ou seja, uma vida errante que pode até levar ao aprendizado da virtude, mas que de forma alguma tem o mesmo valor do que uma vida refletida com o auxílio da razão. O intelecto dos princípios é a forma de se viver com sabedoria, conforme nos diz Aristóteles na sua Ética. Essa é a ciência das causas mais elevadas, segundo o Estagirita. Logo, a vida vivida com sabedoria ( a vida teórica) é o objetivo a ser alcançado pelo homem que quer ser sábio. Esse tipo de homem sábio e que experimentou a vida teórica é o que busca a filosofia de  Tomás e que ele próprio viveu. Por isso, sua filosofia é muito mais teórica do que prática. Não há na filosofia medieval uma busca pelo prazer, pelo que é útil, nem mesmo da noção de dever fazer alguma coisa pelo bem da humanidade. O que existe é uma tentativa incessante de se viver uma vida que busque a salvação da própria alma e da contemplação, ainda que limitada e imperfeita, da glória divina. A vida da razão, da contemplação e da sabedoria atingiu com  Tomás a sua definição mais perfeita. Indico essa passagem citada para uma contínua reflexão.

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