Por Denis Monteiro
A cada sermão pregado, a cada artigo em blogs ou/e sites que são publicados, em cada livro e revistas que é citados a palavra puritanos, logo vem a mente de que eram pessoas separatistas e rebeldes que buscavam o seu bel prazer levando o povo a se revoltar contra as autoridades. Mas analisando e estudando vemos que o termo e sua influência não poderia ter sido “apagado” entre nós, igreja do Senhor Jesus. Os puritanos são aqueles que, após a Reforma, no momento de recessão e esfriamento, eles buscaram um avivamento e um culto regulado pela Palavra de Deus. Ou seja, eles queriam e lutaram por isso, para que a Reforma fosse aplicada, de fato, na igreja. Que tudo aquilo que fosse um acréscimo humano ao culto - que não podiam ser demonstrado nem apoiado pela Escrituras, deviam ser tirados. Mas bem sabemos que um culto a Deus começa na nossa vida diária de devoção a Deus. E é sobre isso que trataremos neste artigo.
“O Príncipe dos Puritanos”.
Ele nasceu em 1616 e veio a falecer em 1683. Foi capelão no exército de Oliver Cromwell e vice-chanceler da Universidade de Oxford, mas a maior parte da sua vida ele serviu como pastor de uma igreja. Suas obras escritas somam 24 volumes e representam o que há de melhor em termos de teologia no idioma inglês. Em vários assuntos importantes como o Espírito Santo, Mortificação do Pecado e Apostasia, ele é insuperável. Estou falando de John Owen.
John Owen em seu livro Pensando espiritualmente (Editora PES) nos dá algumas lições sobre sobre como cultuar a Deus e este culto começa em nossas vidas.
E seguiremos o conselho deste velho puritano. Jonh Owen ao falar de como ir ao culto parece estar vivendo em nossos dias ou até mesmo nos dias de Spurgeon que diz:
Muitos gostariam de unir igreja e palco, baralho e oração, danças e ordenanças. (...) Quando a antiga fé desaparecer e o entusiasmo pelo evangelho é extinto, não é surpresa que as pessoas busquem outras coisas que lhes tragam satisfação. Na falta de pão, se alimentam com cinzas; rejeitando o caminho do Senhor, seguem avidamente pelo caminho da tolice.
As pessoas não sabem mais qual é o propósito de ir ao culto. Para muitos a igreja funciona como um pronto socorro, e desde que as pessoas estejam socorridas, as demais coisas, inclusive a adoração, ficam em segundo plano ou até mesmo ignoradas. John Owen deixou isso claro:
Muitas pessoas gostam de frequentar cultos de adoração a Deus. Contudo, esse gosto, em si, não é necessariamente um sinal de verdadeira espiritualidade.
O sinal verdadeiro de sermos crentes verdadeiros não está no ir ao culto, mas como vamos a este culto a Deus. Na história Bíblica mostra que o povo de Deus, que buscavam o culto para lhes satisfazer, ião ao culto divididos e com uma adoração distorcidas. Em Isaías 1.13 mostra um povo que desobedecia abertamente a Deus mas que continuavam a oferecer a sacrifícios a Deus. E Deus diz que esta atitude é abominável a Deus, porque não podia “suportar iniquidades associada ao ajuntamento solene” (Is 1.13). Em Malaquias 1.7-10 Deus reprovou a qualidade das ofertas porque o povo não dava o melhor que podia. Em Amós 5.21-27, Deus exigiu justiça e não sacrifícios . E em Coríntios Paulo os acusou de ajuntarem “não para melhor e sim para pior” (1 Co 11.17).
O principio de ir ao culto, como diz Owen, é perceber “a diferença entre uma verdadeira mudança espiritual e a mera renovação moral do caráter”. Há pessoas que gostam de ir ao culto pelo o fato de uma pregação eloquente e uma música agradável, mas Owen diz que para uma pessoa que pensa espiritualmente ele pensa diferente e não busca somente isso. E buscando aquilo que somente lhe agrada pode trazer, como diz Owen, uma “distração que nos afasta do culto real”.
O comportamento de um cristão que se embaraça com negócios desta vida pode até conhecer o culto de uma forma superficial, como Owen define; como dois homens que gostam de um mesmo jardim um gostará do seu colorido e aroma; o outro, por conhecer de perto a natureza e os benefícios do uso das flores e das ervas. Segundo Owen este último é o que pensa e vive espiritualmente, porque ele não conhece superficialmente, mas sabe do resultado prático e verdadeiro e o fruto que isso pode nos trazer.
As pessoas que têm mentalidade espiritual encontram tanto gozo em todos os aspectos da adoração a Deus que não querem ficar sem ela. diz John Owen.
E nisto Owen nos faz uma pergunta: De que maneiras os que pensam espiritualmente auferem [lucram, obtém] seu prazer da participação nos deveres do culto religioso?
Nosso prazer em adorar a Deus e seus benefícios está em nossa mudança espiritual. Uma pessoa que foi, verdadeiramente, regenerada terá a plena vontade de adorar a Deus não se importando com o resultado que ela possa receber, mesmo que isso lhe custe a morte.
No preparo, a cada dia, para que no dia do Senhor possamos adorar a Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças (Marcos 12:30). Como Owen nos diz que “a fé é o único meio de se aproximarem de Deus; que o amor é o único meio de Lhe obedecerem; que a reverência e o prazer espiritual são os únicos meios de viverem junto dEle”. A nossa fé tem que ser demonstrada em todos os lugares e não só nos cultos, mostrar-se em um culto é fácil. Mostrar a nossa fé aonde quase ninguém pensa em Deus é difícil. Logo, temos que nos aproximar de Deus todos os dias e em todos os lugares. O nosso amor, se realmente formos regenerados, será um amor como João nos diz “...se Deus assim nos amou, também nós devemos amar uns aos outros.” (1Jo 4:11). Um amor que mostre rendição a Deus e a Sua Palavra, porque a lei se cumpre numa só palavra, nesta: "Amarás ao teu próximo como a ti mesmo."(Gl 5.14). Como diz Agostinho: “eu odiaria minha própria alma se descobrisse que ela não ama a Deus.”. A reverência a Deus é o principio do cristão, é a certeza de que ele é um eleito como está descrito pelo profeta: "e farei com eles uma aliança eterna de não me desviar de fazer-lhes o bem; e porei o meu temor nos seus corações, para que nunca se apartem de mim." (Jr 32.40). Como descreve Owen, a reverência é acompanhada pelo prazer de servir a Deus. O cristão deve ter o prazer de servir a Deus a cada dia, como explica F.F Bruce: O amor e a obediência a Deus estão de tal maneira entrelaçados um com o outro que a existência de um implica a presença do outro.
Ao contrário de tudo isso Owen define assim:
Vir ao culto cheio de outros pensamentos, ou ignorando quais pensamentos deveríamos ter, será dar surgimento à mornidão, à frieza e à indiferença. Devemos sobressaltar-nos ao encontrarmos esses sinais de decadência em nossos corações.
O nosso desejo de cultuar a Deus deve está baseado na oração do Senhor Jesus (Mt 6.9-13), o nosso culto deve buscar a vontade e a gloria de Deus manifestada na terra como ela o é manifestada no céu.
Para concluir, citarei mais uma frase de John Owen:
O nosso amor a Deus é que nos motiva a anelar que a Sua glória seja vista. Por isso os crentes se deleitam em fazer qualquer coisa que manifeste essa glória.
Quem não vier ao culto com esse desejo não obterá dessa ocasião nenhum prazer, senão o pobre prazer de supor que o seu culto o glorificará aos olhos de Deus — o que, como já vimos, não acontece.
Autor: Denis Monteiro
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