Cuba: "Cristãos são tratados como criminosos pelo governo"
Um tribunal em Cuba condenou o pastor de uma igreja doméstica a um ano de prisão domiciliar por realizar “cultos de adoração com volume alto”. Ele mora na cidade de Las Tunas, no leste do país, onde lidera uma congregação de 550 fiéis. A acusação oficial é que ele violou as leis de proteção ambiental do país, causando “perturbação da paz”.
De acordo com a Morning Star News, Juan Carlos Nuñez recebeu a sentença em um julgamento sumário, antes que conseguisse um advogado para defendê-lo. Uma fonte próxima do pastor reclama que “o advogado não teve tempo para se preparar, sem chance de apresentar a defesa. Não houve aviso prévio.”
Nuñez já está cumprindo a sentença, mas afirmou que vai apelar da sentença, que considera excessivamente dura. “Nossa missão é pregar o evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo, e estamos sofrendo por essa causa”, desabafou Nuñez. Ele explica que, em Cuba, cristãos como ele são “tratados como criminosos e inimigos do governo”. “Somos filhos de Deus injustamente acusados e condenados”, lamenta.
A acusação de perturbar a paz veio após supostas queixas apresentadas pelos vizinhos da Igreja Apostólica Rei da Glória, liderada por ele. O sistema de som produziria um som muito alto, embora ele afirme que os alto-falantes são pequenos, com 150 watts de potência. Na verdade, é muito pouco, considerando que as pessoas se reúnem ao ar livre, no pátio de um complexo de apartamentos em Las Tunas.
Outra queixa dos membros da igreja é que foram enviados para acompanhar o seu julgamento vários soldados de elite, chamados de “boinas pretas”. Esse aumento da segurança aumentada é algo sem precedentes e desnecessário, no entendimento do pastor. Afinal, ele respondia em um tribunal de casos civis, não era acusado de cometer um crime.
“Esta foi uma forma de intimidação, uma demonstração de poder”, resumiu Nuñez. “Veja só, eles temiam que houvesse protestos, pois sabem estão fazendo algo injusto.” Mesmo condenado, o pastor Nuñez disse ter ficado alegre com o apoio que recebeu da comunidade cristã. “Ele está muito chateado, mas está confiando no Senhor”, disse um dos membros da igreja.
O pastor destaca que o problema todo ocorreu por que o governo não permite que as igrejas construam novos templos, uma vez que deseja parar o movimento evangélico, que cresce rapidamente na ilha.
Embora as igrejas sejam rigorosamente controladas pelo Partido Comunista de Cuba, o Escritório para Assuntos Religiosos (ORA) permite o uso de casas particulares para cultos religiosos. O “problema” começa quando o número de pessoas é tão grande que a reunião nas casas se tornam inviáveis.
Não há números oficiais, uma vez que muitas dessas igrejas se reúnem sem autorização do governo, mas estima-se que o número das “igrejas nos lares” seja entre 2.000 e 10.000. Cerca de 5% dos 11 milhões de habitantes de Cuba se declaram evangélicos, com os católicos perfazendo 50% da população. Depois de quase 50 anos da revolução comunista, apenas 23% da população segue a orientação do governo e se declara “sem religião”.
O crescimento dos evangélicos incomoda as autoridades, que aumentou as medidas de repressão. Um relatório da Christian Solidarity Worldwide mostra que as demolições de igrejas aumentou em Cuba este ano.
A organização registrou 1.606 violações da liberdade religiosa no primeiro semestre deste ano. Em comparação, foram 220 em 2014, pulando para 2300 em 2015. Após quase 50 anos de proibição, exemplares da Bíblia voltaram a entrar livremente no país.
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